sábado, 19 de junho de 2010

Família, Um Sonho Possível no Plano de Deus.


João Batista Athanásio. Membro da Escola de Pais, Secção de Curitiba, PR. Professor nas áreas de Filosofia, Psicologia e Direito. Advogado especializado em Direito de Família..  jbathanasio@ig.com.br.

Introdução.
A EPB é cristã, mas não pertence nem esteve ou está subordinada a nenhuma denominação eclesial. Assim, acolhe igualmente: cristãos e não cristãos. Enfim, o que importa é que sejam MÃES e PAIS.
Porém, sem discriminar e sempre acolhendo a todos, a EPB pode dizer com clareza, honestidade e caridade qual é o modelo de família que preconiza, de conformidade com a sua orientação cristã.
É o que se pretende contribuir com este artigo, sem a pretensão de esgotar o assunto.
A base é a própria vivência familiar, como filho e depois como pai, confirmada com a pesquisa bibliográfica, sobretudo no Catecismo da Igreja Católica, mas sem qualquer apologia denominacional.

1.      A família é um sonho possível- Tema do Congresso Nacional da EPB, 2010.
A tarefa é a de ajudar a pensar, de modo que a preocupação que orienta os Congressos é a de buscar elementos novos, haja vista a sequência de temas dos últimos dez anos, numa lógica, numa filosofia: os temas, ou se referem a problemas internos da família (puberdade, acertos e erros..., adolescência, economia...). E, por outro lado chamam a atenção para o tempo, o espaço e cultura de mundo, onde a família se encontra com essas preocupações, como, por exemplo, os temas dos Congressos: 39º (Educando em Tempos de Adversidade), 40º (A Convivência Familiar e os Ambientes Externos) e 46º (A Família nos Tempos que Correm. Para Onde Vai?). Em outros congressos com preocupações dos temas “para dentro da família” 41º (Família, Caminho da Independência Segura), 43º (Desafios da Família: Autonomia, Competência, Solidariedade), 45º (Pais e Filhos: Prevenir ou Remediar).
Neste 47º a EPB quer sonhar e tornar possível este sonho para todos os interessados. O foco são as famílias que vivenciam os problemas da pós modernidade e querem resolve-los da melhor forma possível.
A temática do sonho possível é de todo país, cultura e civilização, que enfrenta dificuldades. É possível pensar em outra sociedade. As multidões se reúnem em torno de buscar os sonhos impossíveis. E, até os milagres.
Eis o que se pode propor como possível, mas que até pode parecer milagre!

2.           Um modelo ideal de família.
Para o cristão é impossível falar de família sem considerar antes de tudo um modelo perfeito e concreto, como é o da família de Jesus com seus pais terrenos Maria e José. O Evangelista relata que era pobre, do povo comum; que o nascimento de Jesus, numa manjedoura, foi testemunhado apenas por simples pastores; mas que nesta humildade é que a glória de Deus se manifesta.
A família de Nazaré – Jesus, Maria e José - portanto, constitui as premissas do assunto “família”, por ser ela o modelo ideal que se concretizou, de amor, de fé, de submissão à vontade do Pai e à sua Lei, de relacionamento com respeito e obediência, de cidadania, de formação, de simples e austera beleza, de trabalho, etc.
A família do “Filho Pródigo” também é um modelo apresentado pelo próprio Jesus, além da sua própria casa. Ele quis deixar um exemplo ideal de família com aquela Parábola. Um ensinamento tão forte e profundo e, ao mesmo tempo, tão simples, que constitui uma suma de todo o Evangelho. É certo que sua mensagem central era a de mostrar a figura de um pai que acolhe, que perdoa, que tem misericórdia, a fim de que todos pudessem compreender a misericórdia divina. Mas para passar esta mensagem só foi possível criando um lar ideal, para o qual o filho sempre retornaria. É numa casa assim que todo filho quer morar; mesmo que se deslumbre com liberdade ilusória e a abandone, depois saberá que lá será sempre acolhido novamente, perdoado e amado. Saberá que seu retorno fará seus pais felizes, que eles não lhe condenarão, mas sim farão festa na sua volta para casa. Saberão que o aconchego do lar é de fato melhor que os vícios que o filho possa ter experimentado na sua desvairada busca de “liberdade” e “prazer”.
Quantos certamente deixariam os erros se tivessem uma casa para voltar! E lá encontrassem pai e mãe que os acolhesse e os perdoasse, sem limites, começando vida nova! As casas de reclusão, as varas de família, as clínicas para tratamento de viciados e até mesmo os hospitais, certamente esvaziariam de sua clientela.

3.           A família é a melhor escola.
Mas para formar uma casa é preciso instrução e preparação, que começam antes do casamento. Não é possível imaginar que só haverá famílias felizes entre aqueles que fizeram um bom curso de noivos na Igreja onde se casaram. O “curso” para noivo, para pai, para mãe, para esposo, para esposa, começa a ser dado por pais em cada casa, de cada família. A EPB deve, é claro, passar os valores cristãos e humanos do Casamento e da família a todos e em especial a quem deseja se casar, mas este valor será muito melhor absorvido por aqueles que os viveram concretamente em seus lares.
 
4.           “Célula-mãe”.
A sociedade familiar é necessária e indispensável porque é um dos tipos de sociedade que mais imediatamente corresponde à natureza humana. Toda socialização, que compreende a participação do indivíduo nas diversas instituições humanas (cultural, esportiva, recreativa, econômica, política, social, profissional) tem seu germe de eficácia no seio familiar, onde cada um inicia o desenvolvimento das suas qualidades pessoais e reconhece o que pode fazer para garantir seus direitos e para responsabilizar-se por seus deveres.

5.           “Igreja doméstica”.
A EPB, mesmo respeitando as diversas denominações religiosas, cristãs e não cristãs, pode deixar claro como se configura os frutos da formação de uma família cristã, como um valor a ser analisado e escolhido livremente. Trata-se da “igreja doméstica”[1] formada sobre o tripé fé-esperança-caridade, em que seus membros são uma verdadeira comunhão de pessoas, numa unidade, gerando e educando seus filhos, na continuidade da obra do criadora de Deus. Com tal suporte é possível a felicidade, que se manifesta no afeto, nos sentimentos, nos planos e interesses, no respeito a cada membro.

6.           O que os pais devem saber.
O lar é muito mais que um mero espaço físico. É um estado de espírito ou mesmo uma fonte donde deve brotar amor, ternura, fidelidade, perdão e respeito. Mas estes valores e atitudes não nascem do nada, mas sim do exemplo e do ensino dos pais. Estes devem ser instruídos quanto à condução de um lar firmado nestas virtudes, a fim de que possam conduzir seus filhos à felicidade e à realização como pessoas. Tal tarefa não é fácil, nem tampouco supõe que todos os pais e mães, enquanto tais sejam absolutamente perfeitos, mas sim que devem ser pessoas que desejam acertar, reconhecendo a grande responsabilidade que têm em dar bons exemplos aos seus filhos, bem como reconhecendo as próprias limitações e defeitos, sendo capazes de desculpar-se de seus erros e de se corrigirem. Deverão agir não com raiva ou autoritarismo, mas sim com modelos de autoridade.
 
7.           É preciso ter filhos?
Os filhos constituem o grande dom, a grande realização e o maior bem dos pais, pois homem e mulher foram criados por Deus também para se multiplicarem, sem deixarem de lado ao outros fins para os quais se unem. A fecundidade é um dos deveres fundamentais da família, a serviço da vida. Porém isto não quer dizer que não estarão “a serviço da vida” aquelas pessoas impedidas de ter filhos biológicos, pois estas são convidadas também à fecundidade da caridade, acolhendo as crianças abandonadas, que no mundo de hoje não são poucas.

Conclusão
Portanto, a EPB concorda com o senso comum em que a educação de um filho é, basicamente, a condução do seu processo de crescimento e desenvolvimentos físico, mental e moral, a fim de ele possa desenvolver melhor seu potencial de ser pessoa e aprenda a construir sua vida e sua felicidade[2]. Desse modo, logo os filhos terão condições, eles próprios, de fomentar o amor, a justiça, o respeito e a caridade mútua, usando corretamente sua inteligência e liberdade, nas suas relações sociais e profissionais, para que possam ingressar digna e acertadamente na vida adulta. Tudo isso se inicia em casa.  
Vejo que este possa ser um modelo de família que a EPB procure viver através de seus voluntários e no contexto de seus conteúdos programáticos, sem excluir – repete-se – nem tampouco discriminar sob qualquer aspecto os filhos, as mães e os pais que façam parte de outras formas de organização familiar da atualidade.


[1] Igreja doméstica, antiga expressão utilizada pelo Concílio Vaticano II quando se refere à família, conforme Lumen Gentium 11 e Familiaris Consortio 21.
[2] Escola de Pais do Brasil. Educar, uma opção. SP: Dag Gráfica Editorial Ltda., 1991, p. 17.

3 comentários:

  1. É um texto bem construido didadicamente e vem recheado de mensagens amorosas e de esperança de que, acordados, todos tenhamos chance de melhorar nossa performance como pais, educadores e formadores de verdadeiros cidadãos. Parabéns!

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  2. Dario , sou pai tenho um filho de 19 anos e uma filha de 9 anos , sei da dificuldade de manter nossos filhos no bom caminho da espiritualidade e para tanto busco ajuda em textos como esse que nos ajudam e orientam .
    Athanazio , continue escrevendo vc tem o dom .

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  3. Muito interessantes as suas colocações. Em um momento de desagregação familiar, sabe-se, hoje, que cada pessoa é fonte de percepções, crenças e necessidades únicas essas diferenças intrínsecas de cada ser em contexto relacional formam as bases de cada família. Todos nós temos algo em comum, que é a capacidade de mudar o seu próprio modo de ser. Precisamos entender a finalidade de nossa existência e arregaçar as mangas em busca de nosso progresso individual, para não sermos alunos sempre repetindo de ano. Seu texto deixa bem claro que, o adulto consciente, seguro, transmitirá aos filhos uma herança benigna, mais humana e mais consciente. A palavra convence e o exemplo arrasta e a aprendizagem social tem inicio na família, primeiro grupo de que se faz parte. É um grupo organizado com hierarquia, deveres e direitos que precisam ser respeitados. Nele o individuo começa a assimilar padrões de comportamento que lhe serão úteis por toda a vida. Na família o filho aprenderá a respeitar as autoridades - os pais; a trabalhar em regime de cooperação; a dividir o que é seu e de seus irmãos. Aprenderá a desfrutar de seus direitos. Desta forma estará se preparando para sua integração na sociedade em que vive, capacitando-se para respeitar os direitos de seu semelhante. O lar, construído com amor e respeito, é o lugar onde os filhos são preparados para crescer no sentido da independência e de um modo de viver no mundo exterior. O maior exemplo de família perfeita é, sem dúvidas, a Sagrada Família. Parabéns!! Excelente texto!

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